NOTA: Você pode estar se perguntando: "Mas o último 'Dr. Craig Responde' foi o número #0003, porque está sendo publicado o #0006?". Bem, o Racionalizando segue uma doutrina reformada, e, humildemente, discordamos em muitas questões teológicas que são defendidas por Craig. A decisão inicial da equipe do site era de publicar mesmo as respostas das quais divergimos doutrinariamente, mas, em sabedoria, mudamos nossa decisão, e para não causar nenhum tipo de confusão, não realizaremos a tradução ou divulgação de qualquer resposta que possa induzir ao erro conforme a nossa posição teológica. Assim, algumas perguntas não serão publicadas aqui, mas podem ser acessadas diretamente pelo site ReasonableFaith.org (em inglês). Agradecemos a compreensão de todos.
PERGUNTA: Em minhas discussões com ateus, percebo que têm usado a expressão de
que lhes “falta a crença em Deus”. Dizem que isso é diferente de afirmar
que Deus não existe. Não sei bem como responder a isso. Parece-me um
jogo tolo de palavras e é logicamente o mesmo que dizer que não se
acredita em Deus. Como eu poderia dar uma boa resposta para isso?
Obrigado pelo seu tempo.
Steven
DR. CRAIG RESPONDE: Seus amigos ateus estão certos em afirmar que há uma diferença lógica
importante entre crer que Deus não existe e não crer que Deus existe.
Compare minha declaração, “Acredito que não existe ouro em Marte”, com
minha outra declaração, “Não acredito que existe ouro em Marte”. Se não
tenho opinião a respeito da questão, então não acredito que existe ouro
em Marte e não acredito que não existe ouro em Marte. Há uma diferença
entre afirmar “Eu não acredito em (p)” e “Eu acredito em (não p)”. Há um
mundo de diferença lógica dependendo da posição em que se coloca a
negação.
Contudo, o erro de seus amigos ateus está em afirmar que o ateísmo
compreende somente não acreditar que Deus existe em vez de acreditar que
Deus não existe.
Há um pano de fundo histórico por traz disso. Em meados do século XX,
alguns ateus promoveram o conhecido “pressuposto do ateísmo”. Sem maior
análise, poderia parecer que a alegação de que, na falta de evidência
favorável à existência de Deus, deveríamos supor que Deus não existe. O
ateísmo é uma espécie de posição padrão, e o teísta tem a
responsabilidade de apresentar o ônus da prova, quanto à sua crença de
que Deus existe.
Assim compreendido, o pressuposto adotado é evidentemente um
equívoco. A asserção “Deus não existe” é uma afirmação de conhecimento
tanto quanto o é a asserção “Deus existe”. Portanto, a primeira exige
uma justificativa do mesmo modo que a última. O agnóstico é quem não faz
nenhuma afirmação de conhecimento acerca da existência de Deus. Ele
confessa que não sabe se Deus existe ou se Deus não existe.
No entanto, ao olhar-se mais de perto o modo como os protagonistas do
pressuposto do ateísmo empregavam o termo “ateu”, descobre-se que a
palavra é definida de maneira atípica, como sinônimo de “não teísta”.
Assim compreendido, o termo abrangeria tanto os agnósticos como os ateus
tradicionais, juntamente com os que consideram a questão sem sentido
(verificacionistas). Conforme confessa Antony Flew:
no presente contexto, a palavra “ateu” deve ser analisada gramaticalmente de modo incomum. Hoje, é normal considerar que signifique alguém que nega explicitamente a existência [...] de Deus [...]. Mas aqui ela tem de ser entendida não positivamente, mas negativamente, lendo-se o prefixo grego “a-” originalmente da mesma maneira em “ateísmo” conforme costuma ser lido em [...] palavras como “amoral” [...]. Assim interpretado, ateu passa a ser não alguém que assevera positivamente a não existência de Deus, mas simplesmente alguém que não é teísta. (A Companion to Philosophy of Religion, org. Philip Quinn e Charles Taliaferro [Oxford: Blackwell, 1997], s.v. “The Presumption of Atheism”, por Antony Flew)
Essa redefinição da palavra “ateu” trivializa a alegação do
pressuposto do ateísmo, porque, de acordo com ela, o ateísmo deixa de
ser uma visão. É um mero estado psicológico partilhado por pessoas que
adotam varias visões ou visão nenhuma. Segundo essa redefinição, até
mesmo bebês, que não têm nenhuma opinião sobre a matéria, são
considerados como ateus! De fato, Muff, nossa gata de estimação, segundo
tal definição, é considerada ateia, já que ela (até onde eu sei) não
tem nenhuma crença em Deus.
Ainda se poderia requerer uma justificativa para saber se Deus existe ou não — a questão na qual estamos realmente interessados.
Assim, talvez você se interrogue, por que razão os ateus estariam tão
ansiosos para banalizarem assim a própria posição? Nisto concordo com
você: muitos ateus têm feito um jogo enganoso. Caso se considere que o
ateísmo seja uma visão, a saber, a visão de que Deus não existe, então
os ateus têm de arcar com a sua parte do ônus da prova para apoiar essa
visão. Contudo, muitos ateus admitem francamente que não conseguem
sustentar o ônus da prova. E, assim, tentam escapar de sua
responsabilidade epistêmica com a redefinição do ateísmo, de modo que
não é mais uma visão, mas apenas uma condição psicológica que, como tal,
não faz afirmações. Na realidade, eles são agnósticos enrustidos que
querem reivindicar a capa do ateísmo sem arcar com a responsabilidade
dele.
Isso não é nada sincero e ainda nos deixa esta pergunta: “E aí, Deus existe ou não?”.
Originalmente publicada como: “Definition of Atheism”.Traduzido por Marcos Vasconcelos. Revisado por Cristiano Camilo Lopes.
Dr. Craig Responde: Definição de "ateísmo"
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