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Deus e o Inferno - Parte 2: O inferno não é um lugar de arrependidos

Deus e o Inferno - Parte 2: O inferno não é um lugar de arrependidos


O INFERNO NÃO É UM LUGAR DE ARREPENDIDOS

Existe uma caricatura desenvolvida pelos incrédulos de que o inferno é uma espécie de “câmara de tortura” onde as pessoas que ali foram lançadas são forçadas a permanecer contra a sua vontade sendo impiedosamente maltratadas e tendo como carrascos alguns demônios que fazem todo o trabalho sujo. Talvez eles estejam apenas bobamente influenciados por pinturas medievais, mas o fato é que essa é uma tentativa frustrada de criar uma imagem do inferno como sendo um lugar cruel e que Deus seria um sádico em permitir que estas pessoas passem por todos esses sofrimentos mesmo que desejem ardentemente sair daquele lugar. Tal ideia não condiz com o relato bíblico do sofrimento eterno, pois o inferno não é um lugar de pessoas arrependidas.

Em primeiro lugar, é necessário dizer que muitos daqueles que lutaram contra Deus por todas as suas vidas muito provavelmente não seriam muito felizes no céu. Se o desfrute da Santidade de Deus, o louvor ao Seu nome e a maravilha do Seu caráter, se estas coisa não são realmente preciosas em primeiro lugar, então porque esta pessoa desejaria ir para o céu? Em segundo lugar, as pessoas que se encontram no inferno não chegaram ali por engano e ao perceberem o lugar onde estavam iniciam um processo de arrependimento e de desespero para sair dali. Elas, antes de mais nada, desprezaram o Criador de todas as coisas e desejaram estar no centro do Universo tornando-se elas mesmas o seu próprio “deus”. Nas palavras de Lee Strobel:

O inferno não está cheio de pessoas que se arrependeram, mas Deus não é amável o suficiente ou bom o suficiente para deixa-las sair. O inferno está cheio de pessoas que, por toda a eternidade, ainda querem ser o centro do universo e persistem na sua rebeldia desafiadora contra Deus. O que Deus devia fazer a respeito? Se disser que não se importa, não será mais um Deus a ser adorado. Ele seria amoral ou positivamente medroso. Agir de qualquer outra maneira face a uma rebeldia tão ostensiva seria diminuir o próprio Deus. [1]

É bem verdade que o inferno é sim um lugar de tormento. Jesus disse que era (Lc 16:24). Mas, ao contrário da tortura que é infligida de fora, contra a vontade da pessoa, a tormenta daquele lugar é auto-infligida. [2] Até mesmo Jean-Paul Sartre, o maior representante do ateísmo existencialista, exemplificou o inferno, metaforicamente, como sendo um lugar onde a porta está fechada pelo lado de dentro. [3] A Bíblia fala do inferno como um lugar onde aqueles que estão imundos permanecem imundos e não há evidência, em nenhum lugar da Bíblia, de que as pessoas vão para o inferno e realmente se arrependem e querem se voltar para o Deus vivo. Em vez disso, é um lugar onde, por toda a eternidade, as pessoas ainda estão desafiando Deus, ainda odiando-O, ainda se justificando, ainda destruindo relacionamentos, ainda sendo ressentidas, ainda alimentando sua justiça própria em um círculo interminável de debilidade, vergonha, culpa e afronta que não produz nenhum arrependimento. Nunca! [4]

Como poderia um lugar destituído da Graça de Deus conseguir transformar o coração do homem, algo que só possível através da regeneração realizada pelo Santo Espírito? O sofrimento não amolece o coração duro do homem, ao contrário, ele somente o endurece ainda mais e para constatar isso, guardadas as devidas proporções, basta observar as médias dos índices de reincidência e de criminalidade do sistema penitenciário mundial. Assim, um inferno que leva pessoas ao arrependimento é uma completa impossibilidade, uma vez que o único Caminho para a Salvação é o Cristo. [5]

A sugestão de que o sofrimento do inferno poderia levar as pessoas que estivessem padecendo dele ao arrependimento verdadeiro é irreal e impossível conforme as descrições da Bíblia. Todos os que estiverem no inferno “rangem os dentes” (Mt 13:50; Lc 13:28), e isso nos indica uma total indisposição de temer a Deus ou de reformar-se. Ranger os dentes é uma forma de demonstrar uma rebelião firme e resoluta. Assim, quanto mais as pessoas permanecem no inferno, mais há justificativa para o castigo que estão sofrendo. Se o sofrimento do inferno de fato pudesse levar alguém ao arrependimento, então Jesus não teria amaldiçoado os que O rejeitam e por isso são mandados ao inferno (Mt 11:21-24). Nenhum pecado seria imperdoável se as pessoas no inferno ainda pudessem se arrepender de suas práticas, mas o próprio Cristo disse que a blasfêmia contra o Espírito Santo não receberia perdão (Mt 12:31-32).

Talvez o melhor exemplo bíblico desse assunto que estamos tratando esteja em Lc 16:19-31 quando Jesus conta a parábola do homem rico e de Lázaro. Na história, como todos bem conhecem, o rico desprezada e humilhava Lázaro, ignorando mesmo quando padecia com fome ao seu portão, passado um certo tempo, os dois morrem: Lázaro é levado para o conforto celeste ao lado do patriarca Abraão e o rico é lançado para o tormento eterno. Quando o homem rico, no inferno, eleva os seus olhos, no meio do sofrimento do sofrimento que não se acaba:

O que você pensa que ele irá dizer? Você acha que ele vai dizer: “oh Lázaro, eu agora percebo os meus erros, eu estou realmente arrependimento, será que você poderia me perdoar, por favor? Eu realmente abusei de você, eu não demonstrei nenhum tipo de generosidade ou compaixão, eu deixei você doente, falido e miserável do lado de fora dos meus portões, muito embora eu fosse rico. Me desculpe, de verdade, eu desejo verdadeiramente me arrepender.” É isso o que ele diz? Não, o que ele diz é: “pai Abraão (demonstrando o seu racismo), pai Abraão, mande que Lázaro molhe o seu dedo na água para que ele possa molhar minha língua.” Lázaro ainda é o menino de recados! Ele ainda é o criado! Ele nem mesmo fala com Lázaro. Ele simplesmente tentar usar da influência de Abraão! Não há sinais de arrependimento em nenhum lugar! O inferno não está cheio de pessoas que estão profundamente arrependidas e desejosas em sair. Está repleto de rebeldes falidos que ainda tentam justificar-se a si mesmos e pensam em si como o centro do Universo por toda a eternidade. Pecando e sendo punidos, pecando e sendo punidos, numa rotina sem fim. No fim daquela conversa com Abraão o homem rico ainda tenta debater com Abraão: “não pai Abraão, a sua interpretação das coisas está errada, deixe-me corrigir sua teologia.” Este homem, mesmo no inferno pensa ter uma teologia superior do que a do próprio Abraão nos céus! É inacreditável! [6]

Não importava o seu estado de tormento, aquele homem rico da parábola continuava o mesmo pecador, de caráter e coração inalterados. Não houve uma só palavra de arrependimento pelo seu pecado. Pediu compaixão a Abraão, mas não pediu compaixão a Deus. Como judeu perdido, venerou a memória de Abraão, patriarca do povo hebreu, mas não amou a Deus. Ele pediu água para matar a sede, mas não pediu o perdão dos seus pecados. Ele sabia que se encontrava no inferno porque nunca houve arrependimento em seu coração, e ainda assim, continuou a não se arrepender. Ele foi pecador na Terra, e continuou a ser um no inferno. O inferno está cheio de pessoas que por toda a eternidade irão sacudir os seus punhos insignificantes diante do Deus Todo-Poderoso em uma existência eterna do mal, e corrupção, e vergonha, e da ira de Deus.

Há todas as razões, portanto, para se acreditar que no Inferno haverá uma entrega total à maldade, impossível de encontrar na Terra uma vez que aqui existem várias influências atenuantes como os muitos santos e algumas abençoadas atitudes, que nunca influenciarão uma pessoa no Inferno. Dentre nós existem cristãos por toda a parte pregando e avisando aos pecadores das consequências de seus atos perante o Senhor. No inferno, porém, eles estarão eternamente na presença dos que odeiam a Deus, ali o pecador nunca ouvirá um sermão sobre o Evangelho. A influência da respeitabilidade não existe naquele lugar, e podemos ter a certeza de que as pessoas, no inferno, dedicar-se-ão desenfreadamente ao pecado por toda a eternidade, com corações cada vez mais perversos. O inferno é um lugar de pecado e de pecadores, e eles mesmos cuidam de mantê-lo como ele já é.

Há ali, portanto, um ciclo contínuo de culpa e punição que é parte do que os pecadores individuais ainda querem. É doloroso dizer isso, mas é a verdade. Ao passo que a própria natureza do cristianismo bíblico é que Deus intervém e quebra o poder desse ciclo pecaminoso e dá um novo coração e transforma as pessoas, livra-as da sua culpa, lhes dá um espírito, de forma que há o começo de uma vida nova, um novo desejo, uma nova orientação, novas fomes, finalmente consumados em um novo céu e uma nova terra, o lar da Justiça. Então, você não pode realmente responder a pergunta “como pode Deus pensar em mandar pessoas para o inferno?”, a menos que você a coloque na pergunta mais ampla: “O que é a Justiça? O que é o pecado? Qual é a conexão entre a vergonha e a punição?” E, nessa estrutura, o que será claro, por toda eternidade, para aqueles no céu, e até mesmo para aqueles no inferno, é que Deus é Justo, e é visto como Justo. Até mesmo os que estiverem no inferno reconhecerão isso, por toda a eternidade. [7]

Continua na parte final...
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[1] STROBEL, Lee. Em defesa de Cristo. São Paulo: Editora Vida, 2001, pp. 219-220.

[2] GEISLER, Norman L. Enciclopédia de apologética: respostas aos críticos da fé cristã. Trad. Lailah de Noronha. São Paulo: Editora Vida, 2002, p. 426.

[3] SARTRE, Jean P. Entre Quatro Paredes. Trad. Alcione Araújo e Pedro Hussak. 3ª ed. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2007.

[4] CARSON, D. A. Como pode Deus ser amoroso e mandar pessoas para o Inferno? - D. A. Carson. Disponível em: <http://youtu.be/KCbRFU5ucXg>. Último acesso em 10/01/2014.

[5] EDWARDS, Jonathan. The Works of Jonathan Edwards. v. 2. Disponível em: <http://www.ccel.org/ccel/edwards/works2.iv.xii.html>. Último acesso em 10/01/2014.

[6] CARSON, D. A. D A Carson - What Scripture plainly says about hell. Disponível em:  <http://youtu.be/cNAIy7O3OTI>. Último acesso em 11/01/2014.

[7] _____. Como pode Deus... Ibidem.




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