A Bíblia é Verdade ou só contém verdades?

Não é de hoje que muitos têm tentado, através de argumentos sutis, destituir a posição da Bíblia como Palavra revelada de Deus. Muitos “líderes” de seitas supostamente “cristãs” espalhadas por aí repassam esse tipo de ensino aos seus seguidores e esse ensino herético tem tomado as mais diversas variações, algumas mais delicadas do que outras. Recentemente, numa conversa, um amigo me disse que acreditava que a Bíblia continha verdades, mas nem tudo que estava ali era verdade. Respondi a ele que se a Bíblia não é toda composta da Verdade, então nada nela poderia ser conhecida como verdade.

O motivo é bem simples: se não crermos na Bíblia como a verdadeira revelação da Palavra de Deus, isenta de erros e verdadeira em cada letra, como poderíamos saber o que dela é verdade e o que não é? Dizer que a Bíblia apenas contém verdades é como dizer que conhecemos exatamente o que é a Verdade e que conseguimos, com maestria divina, encontrá-la onde quer que ela esteja.

Seríamos, portanto, nós os responsáveis por definir até onde está revelada a verdade e onde ela não aparece? Um pensamento assim é absurdo, posto que coloca o homem como conhecedor último da sabedoria universal, definidor de toda a Verdade, capaz não só de defini-la, mas também de delimitá-la. Estaria, assim, o homem na posição do próprio Deus, capaz de conhecer dos segredos mais íntimos da vida.

Esse tipo de pensamento é ainda perigoso por outros três motivos principais: (1) faz com que criemos um “cânon dentro do cânon”, ou seja, uma “outra bíblia secreta contida na Bíblia” composta somente pelas supostas “verdades” encontradas nos 66 livros; (2) isenta o seguidor deste tipo de ensino de qualquer forma de responsabilidade, uma vez que bastaria somente selecionar as “verdades” que eu considero como válida para seguir e descartar as que eu não creio que precisem ser seguidas; e (3) impossibilita uma confiança plena mesmo nas “verdades” selecionadas a serem seguidas, pois uma vez que “verdade” é somente aquilo que foi assim definido pelo bel-prazer do intérprete, nada nos garante que aquele “conjunto de regras bíblicas selecionadas” seja realmente um conjunto de verdades.

Numa análise última, esse tipo de pensamento parece ter sido formado para amoldar-se ao ego de uma pessoa que se encontra confrontada com os ensinos da Palavra. Alguém que, diante da constatação do próprio pecado e do próprio erro, cede ao desejo de desconsiderar o que mais lhe incomoda dos ensinos de Deus.

Todos nós já nos vimos tentados a amoldar a Palavra à nossa vontade, tentados a desconsiderar ou “passar por cima” de alguma passagem que nos confrontava. A única coisa que nos manteve (e mantém) firmes é a Graça do Senhor e a força dEle através do Seu Santo Espírito, nos capacitando para permanecermos firmados na Rocha em arrependimento e perseverança.

O verdadeiro conhecimento da Verdade vem somente acompanhado da humilhação de reconhecer que não sabemos de nada, ainda que nos esforcemos profundamente em estudarmos os assuntos mais diversos e complexos, e de que dependemos do Senhor para conhecermos até o mais simples fato.

Ele é Deus. Nós não.