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Japão, nostalgia e o Reino de Deus

Japão, nostalgia e o Reino de Deus

Também no caminho das tuas ordenanças esperamos em ti, Senhor. O teu nome e a tua lembrança são o desejo do nosso coração. A minha alma suspira por ti durante a noite; e logo cedo o meu espírito por ti anseia, pois, quando se veem na terra as tuas ordenanças, os habitantes do mundo aprendem justiça.
Isaías 26:8-9

Aqueles que me conhecem mais de perto sabem que eu não sou uma pessoa muito senso-comum em quase tudo. Mas eu acho que, de longe, aquilo que mais desperta atenção é a minha profunda admiração por praticamente tudo que se refere à cultura japonesa. E eu não estou falando somente de gostar de desenhos animados ou revistas em quadrinhos, os famosos animes e mangás, mas a minha paixão se estende aos hábitos, aos costumes, à culinária, à história, à arquitetura e até mesmo à organização social japonesa. É, eu sou estranho.

E o mais engraçado disso tudo é que eu nunca fui ao Japão, nem passei perto. Tudo o que eu tenho de lá veio pelos correios ou através de alguma amizade caridosa que me fez esse enorme favor. Guardo com carinho desde caixas de chicletes vazias até jornais velhos. E como se isso não bastasse, eu ainda tenho o hábito de tentar trazer alguns costumes do Japão para a minha vida. Enfim, eu tenho uma nostalgia pelo Japão.

De acordo com o dicionário que tenho aqui perto de mim, nostalgia significa “tristeza profunda causada por saudades do afastamento da pátria ou da terra natal” e talvez não houvessem palavras melhores na face da Terra para poder descrever o meu sentimento por aquele país. Eu tenho saudades de lugares que nunca visitei, de um povo que eu nunca conheci, de fazer coisas que eu nem sei. Meio louco né? Mas todo mundo se sente assim por algum lugar no mundo, nem que seja o interiorzinho do Estado onde você nasceu.
O cristão não seria uma exceção: nós somos nostálgicos por natureza.

Todo cristão verdadeiro parece ser tomado por um profundo sentimento de inconformismo com as coisas deste mundo (Rm 12:2), mas não é um incômodo qualquer, é uma sensação de desconforto como alguém que deseja ardentemente retornar para uma Terra que ele sequer conhece da mesma forma que o povo judeu clamava por uma terra prometida enquanto vagava pelo deserto. Desejamos profundamente ver face a face o amado da nossa alma, ao ponto de crermos que a morte pode ser lucro, mas ainda sim desejamos permanecer mais tempo sendo usados como instrumentos para a glória Dele, pois sabemos que o viver é Cristo (Fp 1:21). Poderíamos nos satisfazer com todas as coisas que este mundo pode nos oferecer, mas ao invés disso, temos, dentro de nós, considerado tudo aquilo que parece vantagem como esterco em virtude da maravilha que é conhecer ao Senhor (Fp 3:8).

Como essa nostalgia nos faz bem!

Muitos, porém, têm vivido intelectualmente a fé cristã, têm lido a Bíblia, têm ido aos templos e até têm feito trabalhos sociais dos mais diversos, mas não têm encontrado essa nostalgia em suas vidas. Talvez porque simplesmente transportaram os seus desejos carnais para dentro da fé cristã, talvez tenham somente mudado o nome de seus pecados dando-lhes uma roupagem “gospel” e fazendo da fofoqueira uma conselheira espiritual, talvez porque se preocupam mais com o fazer do que com o ser. Talvez. Mas o problema real disso tudo é que essas pessoas não têm vivido para a glória de Deus.

Viver para a glória de Deus não é uma prática que se resume às suas atividades dedicadas à igreja, aliás, ouso aqui repetir as palavras de Charles Spurgeon quando afirmou que “para um homem que vive para Deus nada é secular, tudo é sagrado”. Viver para a Glória de Deus significa reconhecer e perceber o Senhor em cada entrelinha de diálogo, em cada bocado de comida, em cada banho tomado, em cada suspiro realizado. Se ainda não percebemos como é possível glorificar ao Criador nessas coisas tão cotidianas, é porque, para nós, Deus ainda não faz parte do nosso dia a dia. Acreditamos que ele ficou lá no templo e que voltaremos a nos encontrar com Ele daqui a uma semana. Até lá, dedicamo-nos ao mundo e a todas as suas atividades, como se fôssemos só mais um na multidão. Para todas as pessoas que pensam assim, eu lhes digo para que saibam: o mundo não é digno de vocês! (Hb 11:38)

Se Deus ainda não é o Senhor de cada momento insignificante de nossas vidas, não estamos Nele, pois somente quem tem Jesus por Senhor possui o Espírito Santo (1Co 12:3). Não importa o quão “espiritual” alguém possa demonstrar ser: apenas aqueles verdadeiramente regenerados pelo Pai possuem o profundo desejo de encontra-se com Ele e manifestam esse desejo ainda nesta vida, abrindo mão de todas as coisas por amor a Deus e aos seus irmãos. Somente estes, que foram tocados pelo Espírito, clamam vem Senhor Jesus! (Ap 22:17)

Se há algo dentro de nós que anseia por esta nostalgia que ainda não sentimos, devemos nos pôr em oração e, humildemente, pedir ao Senhor para que Ele ponha em nós a saudade da Sua face, os sonhos com o Seu Reino e os desejos do Seu coração. Minha oração é que possamos ser completamente nostálgicos pelo Reino de Deus, ao ponto de que cada ação do nosso dia seja plenamente dedicada em ser uma expressão da Sua majestosa vontade.

Para trazer o Japão um pouco mais perto de mim, eu faço as coisas que se fazem por lá. Que o Reino de Deus possa estar mais perto de nós à medida em que fazemos as coisas Dele.




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