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quinta-feira, 28 de novembro de 2013 às 18:41

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Lições sobre relacionamento: Charles e Susannah Spurgeon - Parte Final

Lições sobre relacionamento: Charles e Susannah Spurgeon - Parte Final


Continuamos a aprender com o relacionamento desses dois. Quantos detalhes, quantas nuances, quanta verdade mergulhada nas entrelinhas mais tênues das atitudes de Charles e Susannah! O artigo de hoje será um pouco mais extenso que os dois anteriores, e se você ainda não os viu, clique aqui para ver a primeira parte e/ou clique aqui para ver a segunda parte.

Sem muita enrolação, continuemos:


Charles Spurgeon via o seu relacionamento com Susannah como algo muito mais profundo do que uma simples conexão de sentimentos. Ele a via como um presente de Deus, e procurava ver o relacionamento deles como algo firmado no passado, no sacrifício de Cristo na cruz, e que durasse muito além dessa vida. Haviam muitas evidências tangíveis dessa espiritualidade: eles gastavam tempo lendo juntos: autores como Jonathan Edwards, Richard Baxter, e outros antigos autores Puritanos. Eles até mesmo publicaram uma coleção de Teologia Puritana juntos. Em agosto de 1854, com menos de dois meses depois de ter se declarado à sua amada, ele a pediu em casamento. [1]

5ª LIÇÃO: RELACIONAMENTO NÃO É RESTAURANTE SELF-SERVICE

Depois de terem iniciado seu relacionamento e assumido o compromisso mútuo, nem Charles nem Susannah tinham em mente desistir daquilo, só havia uma única coisa que poderia mudar o status daqueles dois: o casamento. Eles não tinham um “Plano B” ou uma “pessoa B”.

Não havia o pensamento moderno de “se não der certo, tudo bem” ou ainda “não sei se ele/ela é a pessoa certa pra mim, mas não custa tentar”. Isso havia sido resolvido, e muito bem resolvido, durante o período de amizade e conhecimento que tinha acontecido antes dos dois se comprometerem de fato.

Mas é preciso fazer um parêntese neste ponto. Eu não estou dizendo que o relacionamento não pode dar errado. Pode, e às vezes dá mesmo. Como bem falamos lá no primeiro artigo, muitas vezes o outro está revestido de uma “aparente santidade” que termina só caindo depois de mais algum tempo. “E isso pode ser evitado?”. Talvez, mas nem sempre conseguimos. De todo modo, a questão aqui não é essa. Enganos acerca do caráter do outro podem ocorrer conosco, afinal não somos a Mãe Diná para conseguir adivinhar tudo o que a outra pessoa está planejando, o que não podemos é adentrar num relacionamento sem a certeza de que ele será definitivo. Se essa certeza for frustrada por algum fator alheio a nós, é uma história completamente diferente.

Seja bendito o teu manancial, e alegra-te com a mulher da tua mocidade. E porque, filho meu, te deixarias atrair por outra mulher, e te abraçarias ao peito de uma estranha? [2]
Provérbios 5:18 e 20

Retomemos à história...

Existia uma vulnerabilidade espiritual entre os Spurgeons. Mesmo antes do casamento, Charles escreveu isto para sua futura esposa: “Eu temo não ser tão cheio de amor a Deus como eu costumava ser. Eu lamento meu triste declínio em coisas espirituais. Você e outros podem não ter observado, mas eu agora estou consciente disso… eu te peço, junte as suas orações com as minhas.” Orar um pelo outro era algo muito importante para eles. Mesmo antes de seu casamento, Susannah cedo teve que aprender que a obra de Deus vinha primeiro. Seus encontros “românticos” consistiam nas visitas que ele fazia a ela nas segundas-feiras, ele sentava-se e começava a editar seu sermão do dia anterior para que fosse publicado, enquanto isso, ela se sentava ao seu lado em silêncio. Às vezes, ele estava tão concentrado em seu trabalho de pregação, que se Susannah entrasse na igreja, ele não iria nem mesmo reconhecê-la, apertar-lhe-ia a mão como se fosse uma total estranha. [3]

6ª LIÇÃO: DÊ AO CASAMENTO O QUE É DO CASAMENTO

O mais comum de ouvirmos quando algum jovem (e isso não é exclusivo só aos “jovens” não, viu?) nos pergunta sobre um relacionamento amoroso é: “O que é que pode, e o que é que não pode fazer?”. Quem nunca ouviu isso, ou melhor, quem nunca fez essa pergunta ao seu pastor, líder, ou irmão em Cristo?

Um homem de Deus, que tenho a sorte de ter como grande amigo, certa vez me disse uma frase a qual nunca vou me esquecer: "...ninguém sabe responder, só querem viver de regras e não princípios". E isto resume muito bem o que vou falar aqui.

Quando lemos as cartas do Novo Testamento e procuramos pelas recomendações apostólicas para as igrejas sobre como agir nas mais diversas situações, em nenhum momento vemos algo místico ou transcendental. Não existe nenhuma ordem do tipo: “façam uma corrente de oração durante 40 dias para alcançar a resposta” ou ainda “jejuem durante 65 dias somente pão e água para que uma mensagem seja revelada dos céus”. Os apóstolos simplesmente disseram coisas do tipo: “vocês tem líderes, tem as nossas recomendações na forma de cartas, possuem o Espírito Santo dentro de vocês: usem o bom-senso”.

Entendem como a coisa toda é muito mais simples do que parece? Trata-se de consultar os mais velhos, conversar com a liderança, estar certo do seu caráter em Deus e na Sua Palavra e usar o bom-senso. Entendam, eu não estou dizendo que a pessoa não possa orar ou jejuar enquanto põe seus sentimentos por uma pessoa aos cuidados do Senhor, isso é lindo e eu, pessoalmente, considero muito bíblico. Mas não podemos transformar o relacionamento entre um homem e uma mulher numa visão absolutamente transcendental.

Mas ainda é preciso falar de outro aspecto do que lemos ali em cima. Susannah não estava esperando que em seus encontros pessoais com Charles ele lhe fizesse somente uma sessão de cafuné e elogios, nem muito menos que eles ficassem toda a tarde trocando versinhos apaixonados enquanto sorriam um para o outro. Ela estava se relacionando com um homem de Deus e as ocupações dele eram exclusivamente para o Senhor até que eles estivessem num casamento. Não que eles se colocassem um ao lado do outro como se fossem completos estranhos, mas, para os dois, o romantismo pleno só deveria ser exercido após o casamento. Eles até poderiam declarar-se, trocar mimos e cuidar um do outro em amor, e é óbvio que ambos faziam isso, mas é muito fácil fazê-lo quando você não está enfrentando os problemas de casado e tudo ainda é um "mar de rosas". E eles sabiam disso.

Será que lidar com essa realidade foi algo simples e fácil para Susannah? Certamente que não. Ela era uma mulher como qualquer outra: delicada, doce e desejosa de atenção. Mas sua virtude como mulher de Deus foi saber resguardar seu coração, mesmo depois de assumido o compromisso, para que somente no casamento ela recebesse toda atenção, cuidado e carinho que Charles poderia lhe dedicar. Qual era a motivação, portanto, que havia no centro do pensamento de Susannah? Fazer tudo, absolutamente tudo, para a Glória de Deus.

Portanto, quer comais quer bebais ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus.
1 Coríntios 10:31

E agora a nossa última análise:

Eles se casaram em janeiro de 1856.

7ª LIÇÃO: CASAMENTO NÃO PRECISA DE “MIMIMI”

Simples né? “Eles se casaram em janeiro de 1856.” Mas e daí?

Algum leitor mais atento, que está acompanhando as datas direitinho até aqui, vai perceber que, o casamento deles aconteceu com menos de um ano e meio após Spurgeon ter noivado com a moça, como vimos no parágrafo anterior da história.

E o que temos para aprender com isso? Que casamento não precisa de “mimimi”. Que para casar você não precisa ter comprado sua casa, ou terminado o mestrado, ou formado uma boa e gorda poupança. Os dois só precisam estarem preparados. Biblicamente preparados.

É claro que esse pensamento pode levar algum espertalhão a tentar fazer disso uma desculpa para irresponsavelmente justificar seus atos e iniciar um casamento de qualquer maneira, sem ter ao menos as condições mínimas de ser o provedor e sacerdote de um lar, exemplo e cabeça de sua esposa. Mas isso é um extremo que prefiro não debater, porque cabe às lideranças, aos pastores e aos mais velhos estarem atentos a todas estas coisas. Aconselhando, admoestando e tomando as medidas necessárias, ainda que drásticas.

Preciso mesmo falar mais? Talvez sim, mas como eu já escrevi muito mais do que queria, prefiro passar a palavra para um homem muito mais capacitado que eu, Heber Campos Jr., neste vídeo aqui.

Sei que todas as “lições” até aqui eu tenho encerrado com versículos, mas desta vez, queria deixar gravada a citação que mais me fez ir às lagrimas enquanto escrevia tudo isso, onde Spurgeon fala sobre a dádiva de ter Susannah como sua esposa:

“Ninguém sabe como sou grato a Deus por você. Em tudo que eu já fiz para Ele, você tem uma grande parte. Por me fazer tão feliz, você me ajudou a estar apto para o serviço. Nem sequer meio grama de poder já foi perdido para a boa causa por sua culpa. Eu servi ao Senhor muito mais e nunca menos devido à sua doce companhia”. [4]

Espero que vocês possam ter sidos tão edificados quanto fui ao escrever sobre esses dois. O exemplo desse casal nos alcançou, ultrapassou as nações, burlou os séculos, extrapolou os parâmetros da cultura e nos atingiu como uma flecha, bem no nosso ego. Louvado seja o Senhor pela vida de Charles e Susannah!

AGRADECIMENTOS FINAIS: Preciso confessar, não foi fácil escrever tanto em tão pouco tempo, ainda por cima com tudo o mais que minhas obrigações me comandam a fazer na minha vida pessoal. Mas depois de tudo o que aconteceu nesse período (e foi tanta coisa que vocês nem imaginam), PRECISO deixar aqui o meu sincero agradecimento ao Valderir Júnior, meu sábio amigo citado no texto, guerreiro valente e arrimo nos momentos alegres ou tristes; à Wise Primo, amiga de todas as horas e irmã sempre fiel, revisora e divulgadora dedicada, fundadora do Não sou Princesa, sou Serva; ao Armando Marcos, amigo recente mas já muito amado, fundador do Projeto Spurgeon e que, mesmo sem que eu tenha pedido, nos ajudou MUITO na divulgação e alcance dos artigos; à Ariadna de Moraes, que tem sido, totalmente além do que um apoio ou uma amizade, uma verdadeira irmã e à Isa Cavalcante, por nossas infindáveis discussões filosóficas nas madrugadas acerca da verdadeira natureza do amor. A todos os que mencionei e aos que, por pura incompetência da minha memória, deixei de fora, mais uma vez, meu MUITO obrigado.

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[1] A menção biográfica completa pode ser verificada em http://www.mulherespiedosas.com.br/licoes-casamento-spurgeons/
[2] Este versículo na verdade fala sobre o relacionamento de um homem e uma mulher já casados, porém, guardadas as devidas proporções, seu princípio pode tranquilamente ser aplicado ao período de conhecimento e noivado.
[3] Biografia completa, já sabe, né? Mulheres Piedosas.
[4] Idem.



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