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terça-feira, 17 de dezembro de 2013 às 15:20

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Fui no restaurante ouvir uma boa música... Hã?!

Fui no restaurante ouvir uma boa música... Hã?!


Imagine a cena: você chega para um amigo seu e começa a falar "Cara, você não vai acreditar, eu conheci um restaurante fantástico! A música de lá é maravilhosa! Tem um casal que faz um dueto ao vivo excepcional! E os garçons, então? Meu irmão, todos eles são tão amigáveis, te cumprimentam quando você entra e quando você sai, sempre com um lindo e amigável sorriso no rosto! Dá gosto de estar ali!".

Bom... Além de achar que você é totalmente esquizofrênico, é provável que ele faça aquela cara de "Oi?" e lhe pergunte em seguida "Mas cara, e a comida, é boa?", ao passo que você responde "Ahhh! Isso só você indo lá pra poder conferir!"

De boa, se depois dessa ele não te der uma bicuda no meio da pleura e sair correndo com medo, você já tá no lucro.


Mas como aqui estamos no mundo da imaginação, digamos que o seu amigo aceite esse seu bizarríssimo convite. Quanto você acha que ele vai estar desejando a comida? Quantas vezes ele vai imaginar e pensar sobre ela no caminho até o restaurante? Qual o interesse que ele vai poder ter de, sequer, pedir o cardápio? Do mesmo modo de uma pessoa que, estranhamente, vai a um restaurante esperando somente ouvir um belo piano ao vivo, todo aquele que vai à igreja por outro motivo que não seja o culto ao Senhor, muito provavelmente não encontrará ali a satisfação que o Cristo desejar lhe dar.

Quantas vezes não temos nós mesmos feito convites assim? Tentando "camuflar" a Verdade do Evangelho por detrás de uma capa de entretenimento mundano? Medindo o poder da pregação da Cruz com a nossa capacidade pessoal de convencimento? Exaltando os detalhes e jogando aquilo que é principal para escanteio.

Eu sei que muitos podem dizer que essa "estratégia" funciona, que as pessoas hoje em dia estão cansadas de ouvir falar de religião, que muitos daqueles que estão na igreja hoje chegaram deste modo e atualmente estão firmes... Eu acredito nisso tudo. Até porque é bem verdade que aquele estranho convidado do restaurante pode, quem sabe, pedir algum prato e se surpreender com a boa comida ali servida, mas isso não torna as coisas melhores para o nosso lado. É como borrifar perfume em um cadáver podre. O fato de tudo isso funcionar é motivo para darmos altos e sonoros "Glórias a Deus", porque, de fato, o Senhor tem realizado Sua obra mesmo através da nossa incompetência, mas até que ponto é necessário mantê-la em nosso currículo? É como se estivéssemos jogando dardos de olhos fechados, esperando acertar o centro do alvo e acreditando que estamos verdadeiramente cumprindo a nossa missão em pregar o Evangelho. A quem estamos tentando enganar? Será que é isso mesmo o que Jesus quis falar quando disse-nos "ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura"? Era para falar sobre como o culto na minha igreja é bacana, sobre como as pessoas são legais ou sobre como o louvor é divertido?

O que nos falta? Coragem? Será que temos vergonha do Evangelho ao ponto de, para sermos "estratégicos", precisarmos exaltar toda pequena coisa que aconteça na igreja, MENOS a presença do Deus Vivo? Será que não temos consciência da plena e absoluta suficiência de Cristo ou será que é falta de confiança e conhecimento no poder de Deus e do Espírito Santo para crer que não precisamos de nenhum atrativo ou entretenimento para pregar a Palavra da Verdade?

Perdoe-me se as duras palavras atingem o nosso ego, mas, por um momento, saiamos dessa nossa bolha de conforto pessoal e vamos nos confrontar com alguns questionamentos necessários: como era mesmo que Jesus organizava o ministério de dança e teatro antes de seus sermões? De quantas guitarras Pedro precisou quando pregou para a multidão de judeus? Onde está o discurso de autoajuda na carta aos Hebreus? Qual o sistema de som que Estevão estava utilizando enquanto era apedrejado? Como foi a "estratégia evangelística" de Filipe quando pregou para o eunuco no meio do caminho? Que tipo de entretenimento havia no louvor que Paulo ministrou naquela prisão?

Que fique bem claro que não sou uma espécie de radical que é contra toda e qualquer manifestação no culto e no ambiente eclesiástico. Sei muito bem reconhecer o valor do ministério de teatro e também não sou contra a presença de instrumentos musicais. A questão toda não é o fato dessas coisas existirem, mas de quando elas são colocadas como aquilo que deveria ser a essência da função da igreja. Quando substituímos o suprassumo do culto por uma apresentação musical, de dança ou de teatro. Quando oferecemos entretenimento ao invés de apontar para o corpo e o sangue. Quando ministramos palavras de conforto pessoal e autoafirmação no lugar do sacrifício de Cristo.

Ninguém vai ao restaurante pela boa música e sai de lá satisfeito.

Termino esse texto no mesmo espírito que Charles Spurgeon escreveu as seguintes palavras: "É absolutamente necessário à pregação do Evangelho de Cristo que as pessoas sejam alertadas a respeito do que acontecerá se elas continuarem em seus pecados. Ôu, ôu, senhor cirurgião, o senhor é delicado demais para informar ao seu paciente que ele está doente! Espera curar os doentes sem eles tomarem conhecimento. Assim, o senhor os elogia: e o que acontece? Eles riem do senhor e dançam sobre suas próprias covas. E finalmente morrem! Sua delicadeza é crueldade; seus elogios são veneno; o senhor é um assassino. Será que devemos manter as pessoas em um paraíso de mentira? Será que devemos adormecê-los em doces sonecas das quais apenas acordarão no inferno? Será que devemos nos tornar colaboradores para sua condenação através de nossas agradáveis conversas? Em nome de Deus, não!"

Em nome de Deus, não!


Comentários
2 Comentários

2 comentários:

  1. Rapaz confesso que ao ler esse artigo me sinto muito confrontado em "alisar" tanto as pessoas pra quem eu tenho falado de Deus, mas que acabe esse medo de machucar quem já só o bagaço.

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